'Se você não conseguir fazer com que as palavras trepem, não as masturbe.'
( Henry Miller)

25/06/2010

Alma perdida


 
Sou alma perdida, que fala antes de pensar, clica antes de pensar, ama antes de pensar, ilude-se antes de pensar, chora antes de pensar, vibra antes de pensar, alegra-se antes de pensar, come antes de pensar, magoa antes de pensar, sufoca antes de pensar, chateia antes de pensar, ri antes de pensar !

Por dentro me corrói algo que desconheço o que seja. Uma angústia de fazer o que não sei, de dizer o que cala, de explorar o que não conheço, de ter o que não descobri ainda! Quero tudo e nada que sei! Em lapsos de lucidez, vejo que estou inebriada pela loucura do não-ser. Penso que mudei tudo e acordo para a mesma vida que sempre tive. 

O passado é lugar distante, atalho do que poderia ter sido ! Caminhos que não vêm até o hoje; retalhos mal costurados de um todo despedaçado. Tenho simpatia pelo passante desconhecido que me olha interessado. Seria ele melhor que sou? Pensaria ele que sou melhor que ele? 

Por mais presente que esteja, vivo na inconsciência, onde subsistem formas abstratas, mascaradas de ilusão. Máscaras, máscaras sempre. Digo o que penso, rechaçam-me, não o digo, contestam-me. Meu intelectual me deixa só. Minha intuição me engana. Meu emocional é um ápice. O cansaço existencial me domina! Queria vomitar o que não quero! Recomeçando do vazio, poderia decidir novamente; mas me acomete o tédio em que a nada me prendo. Viver pesa como um fardo. A substância das coisas me absorve: sou tudo e não sou nada. As drogas, já não as quero, tornam-me lúcida! Incongruente, eu as desejo ainda; seria lucidez a fuga que me abarcaria deste mundo? 

Viver é colocar a persona apropriada em ação. Sou assim, quando me exigem ser assim. Profissional, sou equilibrada e calma; mãe, sou exemplo e discurso; mulher, sou sensual e passiva; pessoa, sou forte e abnegada.

Comecei a doer cedo. Na infância não fui criança. Na adolescência, medo. Na juventude, fuga. Chegando a maternidade: algum sentido! Mas agora, neste instante que não existe, dói-me a cabeça metafisicamente! 

Uma dor que avassala o bem-estar; não compartilhada, intangível para o outro. Estou sozinha no meu não-pensar. A miséria moral humana me cai sobre as costas. Tenho uma vida medíocre? Não sei o que é medíocre. Olhando para o lado desconheço onde estou, falta-me o chão, esmorecem-me os sentidos; transcendo a matéria ou me abrigo nela? 

Todos os dias, eu sou uma. Animal, instintiva: elevo-me à altura dos anjos. Humana, quebro-me na queda. Refaço-me vitral escurecido, esqueço-me do ontem ... Recomeço!


(Curiosa)


.....


Nenhum comentário: